sexta-feira, 25 de abril de 2014

Sobre a liberdade



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Por liberdade negativa eu entendia a ausência de obstáculos que bloqueiem a acção humana. Deixando de lado os obstáculos com que nos deparamos no mundo externo, e as leis biológicas, fisiológicas e psicológicas que governam os seres humanos, há privação de liberdade política - que era o tema principal da minha exposição - em função dos obstáculos de criação humana, pouco importa que deliberada ou involuntária.

A extensão da liberdade negativa depende da medida em que tais obstáculos estão ausentes - da medida em que sou livre de tomar este ou aquele caminho sem disso ser impedido por instituições ou castigos criados pelo homem ou pelas acções de seres humanos concretos.

Não basta dizer que a liberdade negativa significa simplesmente liberdade de fazer o que me agrada, porque nesse caso, posso libertar-me a mim próprio dos obstáculos que se interpõem à satisfação do desejo seguindo o exemplo dos estóicos da Antiguidade, e matando o desejo.

Esta via - a eliminação gradual dos desejos susceptíveis de embaterem em obstáculos - acaba por resultar em seres humanos gradualmente despojados das suas actividades naturais de homens vivos: por outras palavras, os seres humanos mais perfeitamente livres serão os mortos, uma vez que a morte anula o desejo e, com ele, os obstáculos.
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Isaiah Berlin

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