"Afirmou-se muitas vezes que uma das características do mundo moderno é o desaparecimento da iniciação. De importância capital nas sociedades tradicionais, a iniciação é praticamente inexistente na sociedade ocidental dos nossos dias.
[...]
A originalidade do «homem moderno», a sua novidade relativamente às sociedades tradicionais, é precisamente a vontade que tem em considerar-se um ser unicamente histórico
[...]
Geralmente entende-se por iniciação um conjunto de ritos e ensinamentos orais que visa a modificação radical do estatuto religioso e social do sujeito a iniciar.
[...]
No final das suas provas, o neófito goza de toda uma nova existência face à que tinha antes da iniciação: tornou-se outro.
[...]
A maioria das provas iniciáticas implica, de maneira mais ou menos transparente, uma morte ritual seguida de uma ressurreição ou de um novo nascimento.
[...]
Eis a razão pela qual a iniciação é tão importante no conhecimento do homem pré-moderno. Ela revela-nos a gravidade, próxima do terror, com a qual o homem das sociedades arcaicas assumia a responsabilidade de receber e transmitir os valores espirituais."

Mircea Eliade, Ritos de Iniciação e Sociedades Secretas