terça-feira, 11 de novembro de 2014


Há que começar por dizer que a paixão é a nudez da alma. Todos nos transfiguramos sobre o seu efeito. Os costumes, as acções aprendidas, a cautela, são simplesmente abandonados, e alma do apaixonado revela-se sem esses instrumentos da mente.

Não que se revele sempre a todos, nem que revele apenas o ser belo e idealizado. Revela uma alma nua, coagida pelo instinto da união, entre o apaixonado e objecto da sua paixão.

São as identidades que se cruzam, o eu e o outro, a linguagem, tudo se funde numa amálgama real e sem cortinas.

A paixão é tudo isso, a nudez exposta e sem defesa.
Sobre a Paixão

Não é, portanto, de espantar que os apaixonados sejam profundamente irritantes. Tornam-se invencíveis, crêem cegamente na maravilha que lhes foi acontecer. Não têm receio de se tornar ridículos por fazerem vozinhas parolas ou criar um dialecto próprio. A eles, só lhes importa verdadeiramente a opinião da cara-metade. E, senhores, quem os pode censurar?

E depois a fé aumenta-se-nos através dos actos corriqueiros. Não são apenas as mensagens que inundam os telefones ou as paixões que se vão cumprindo entre os lençóis ou noutros lugares mais afoitos. Há tanta coisa que as palavras não dizem. Os toques, os cheiros, os olhares. Tudo se torna familiar. Tornamo-nos irracionais. Seja quando julgamos (erradamente) vislumbrar, ao longe, o alvo da nossa paixão ou quando um transeunte traz o mesmo perfume dela. Deixamo-nos abalar, agarramos no telefone e tentamos tocar naquele ser único só mais uma vez. Antes da próxima. E da seguinte.