sábado, 1 de novembro de 2014



"A mudança operada no sentido daquilo a que Foucault, Agamben ou Esposito designam de «biopolítica», uma prática orientada para o reconhecimento do indivíduo enquanto corpo a cuidar, com o consequente enfraquecimento das categorias políticas tradicionais da soberania, da representação, da autoridade do Estado, poderá ser vista também como um factor de mudança no próprio estatuto do intelectual. A questão é a de saber em que medida essa biopolítica, que vê os indivíduos enquanto seres vivos, contribuiu para a «extinção» do intelectual de tipo clássico, muito mais preocupado com os indivíduos enquanto seres sociais e «morais». Parece, de facto, existir uma relação bastante directa entre as duas coisas.

[...]

O capitalismo absorve ele mesmo a grande massa da produção cultural e assume o lugar dos intelectuais, que a nova «sociedade de controlo» (Deleuze) pode perfeitamente dispensar. Numa situação em que a miséria simbólica reina em todo o território da «cultura», em que a saturação informacional enganadora dessocializa os seus consumidores e a destruição da atenção (essa «oração natural da alma») de-forma as mentes com as tecnologias da alucinação audiovisual, a grande questão do nosso tempo passa a ser segundo Stiegler, a de encontrar saídas para este modo de vida e de inventar novas modalidades de existência humana adentro de sociedades totalmente tecnologizadas."

O Mundo está cheio de deuses - João Barrento

2 comentários:

  1. Em resumo, antes dava-se muita importância aos intelectuais e às suas teorias sobre a moral e a ética... A política era regida por ideais. Agora tornou-se mais pragmática mas também mais cínica.

    Não nos devemos esquecer que as Grandes Guerras deram-se nesse quadro anterior... Se pensarmos que nenhuma vida deve ser sacrificada então até pode ter sido uma evolução positiva dar menos importância ao ideais..

    Por fim, sem intelectuais a cultura é dominada pelo consumismo, e algo deve ser feito para voltar a recuperar alguns valores perdidos no meio de tanta tecnologia.

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