sábado, 13 de dezembro de 2014



" ... o Papalagui pensa tanto,  que o acto de pensar se tornou um hábito,  uma necessidade,  e até mesmo uma coacção.  Vê-se obrigado a pensar continuamente.  Só muito a custo consegue não fazê-lo e deixar viver todas as partes do seu corpo ao mesmo tempo. Na maior parte do tempo vive apenas com a cabeça,  enquanto os sentidos dormem um profundo sono. Muito embora isso o não impeça de andar normalmente, de falar, de comer e de rir, permanece fechado na prisão dos seus pensamentos.  Quando brilha um belo sol,  logo ele pensa: 《Que belo sol que está agora! 》E continua a pensar,  sempre a pensar: 《Mas que belo sol!》Ora isso é falso, absolutamente falso, é uma aberração,  pois quando o sol brilha, vale mais não pensar em nada. Qualquer Samoano sensato irá estender e aquecer o seu corpo ao sol,  sem mais reflexões.  E goza do sol não só com a cabeça,  mas também com as mãos,  com os pés,  com as coxas, com o ventre, em resumo, com o corpo todo. Deixa a sua pele e os seus membros pensarem por si próprios, e eles pensam à sua maneira, por certo diferente da da cabeça. Os pensamentos barram amiúde o caminho do Papalagui, como um bloco de lava impossível de deslocar. Se pensa em coisas alegres, não sorri; se pensa em coisas tristes, não chora."

in "O PAPALAGUI, discursos de tuiavii chefe de tribo de tiavéa nos mares do sul", 1920

1 comentário: