" ... o Papalagui pensa tanto, que o acto de pensar se tornou um hábito, uma necessidade, e até mesmo uma coacção. Vê-se obrigado a pensar continuamente. Só muito a custo consegue não fazê-lo e deixar viver todas as partes do seu corpo ao mesmo tempo. Na maior parte do tempo vive apenas com a cabeça, enquanto os sentidos dormem um profundo sono. Muito embora isso o não impeça de andar normalmente, de falar, de comer e de rir, permanece fechado na prisão dos seus pensamentos. Quando brilha um belo sol, logo ele pensa: 《Que belo sol que está agora! 》E continua a pensar, sempre a pensar: 《Mas que belo sol!》Ora isso é falso, absolutamente falso, é uma aberração, pois quando o sol brilha, vale mais não pensar em nada. Qualquer Samoano sensato irá estender e aquecer o seu corpo ao sol, sem mais reflexões. E goza do sol não só com a cabeça, mas também com as mãos, com os pés, com as coxas, com o ventre, em resumo, com o corpo todo. Deixa a sua pele e os seus membros pensarem por si próprios, e eles pensam à sua maneira, por certo diferente da da cabeça. Os pensamentos barram amiúde o caminho do Papalagui, como um bloco de lava impossível de deslocar. Se pensa em coisas alegres, não sorri; se pensa em coisas tristes, não chora."
in "O PAPALAGUI, discursos de tuiavii chefe de tribo de tiavéa nos mares do sul", 1920
gostei! :)
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