A noite estava fria. Era fevereiro e o sol de inverno só a
espaços ia aquecendo a massa fria de ar, arrastada do mar para as colinas da
maior montanha do mundo. Na maior parte, os dias eram chuvosos. Uma chuva miúda
ia-se acumulando nos ramos despidos das árvores e descia até aos seus vértices
formando pequenas gotículas de prata.
Mas hoje não. O céu tinha-se aberto repentinamente pela
manhã, como se uma inteligência superior o tivesse ordenado e assim perdurara
até agora. Nas margens do rio, sob o luar, Anna repousava por um momento. O dia
tinha sido agitado, na verdade toda a semana. “Hei-de conseguir!” pensava ela
conseguindo refletir por um segundo.
A colina da maior montanha do mundo permanecia silenciosa
à sua frente, escura, inamovível, gigante, não conseguindo tapar completamente
o firmamento.
Anna olhou diretamente para o topo. O céu estava nítido,
a atmosfera seca permitia ver claramente as constelações de maior brilho. A
restantes estrelas eram suficientes para delimitar os contornos do enorme
maciço à sua frente.
O seu dilema era interior. Pela primeira desde que se
lembrava de si mesma, via-se perante o desconhecido e incontornável fluir da
vida. “Faltam ainda 3 meses, tenho tempo para me preparar”, dizia para si mesma.
Para se convencer que tudo estava bem. Era como se a montanha à sua frente
estivesse também dentro de si. Aquele obstáculo parecia-lhe adequado, “Sim, vou
preparar-me. Não me vencerás.”
Rapidamente, Anna voltou a cerrar as abas do casaco de lã
que levava posto. Encheu de água a vasilha de barro que a trouxera até ali,
junto ao rio. Depois voltou-se e entrou rapidamente dentro de casa.