quarta-feira, 8 de março de 2017

Anna e a montanha

A noite estava fria. Era fevereiro e o sol de inverno só a espaços ia aquecendo a massa fria de ar, arrastada do mar para as colinas da maior montanha do mundo. Na maior parte, os dias eram chuvosos. Uma chuva miúda ia-se acumulando nos ramos despidos das árvores e descia até aos seus vértices formando pequenas gotículas de prata.

Mas hoje não. O céu tinha-se aberto repentinamente pela manhã, como se uma inteligência superior o tivesse ordenado e assim perdurara até agora. Nas margens do rio, sob o luar, Anna repousava por um momento. O dia tinha sido agitado, na verdade toda a semana. “Hei-de conseguir!” pensava ela conseguindo refletir por um segundo.

A colina da maior montanha do mundo permanecia silenciosa à sua frente, escura, inamovível, gigante, não conseguindo tapar completamente o firmamento.

Anna olhou diretamente para o topo. O céu estava nítido, a atmosfera seca permitia ver claramente as constelações de maior brilho. A restantes estrelas eram suficientes para delimitar os contornos do enorme maciço à sua frente.

O seu dilema era interior. Pela primeira desde que se lembrava de si mesma, via-se perante o desconhecido e incontornável fluir da vida. “Faltam ainda 3 meses, tenho tempo para me preparar”, dizia para si mesma. Para se convencer que tudo estava bem. Era como se a montanha à sua frente estivesse também dentro de si. Aquele obstáculo parecia-lhe adequado, “Sim, vou preparar-me. Não me vencerás.”


Rapidamente, Anna voltou a cerrar as abas do casaco de lã que levava posto. Encheu de água a vasilha de barro que a trouxera até ali, junto ao rio. Depois voltou-se e entrou rapidamente dentro de casa.

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