sexta-feira, 30 de junho de 2017

Dias de Grávida
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A minha gravidez (da Sofia) foi muito preenchida. Quando dei por ela, já estava a acabar.

Estava a estudar e a trabalhar – na verdade, nem fazia uma coisa nem outra – mas andava a correr de um lado para o outro.

Tínhamos de mudar de casa. Foram cerca de 3 meses à procura, mais o tempo dedicado aos bancos, escritura e demais processos burocráticos, nem sempre céleres. Cerca de um mês para a venda da casa do Hugo, com aquelas visitas chatas e novamente, todo o processo legal associado à venda.
Seguiu-se a mudança, algures em abril, creio eu. Nisto, com 7 ou 8 meses, ganhei hemorróidas talvez devido ao esforço.

Trabalhei até dia 28. Só fiz a mala da maternidade mesmo nos últimos dias.

Pelo meio, organizámos um bonito casamento e percorremos os mais controversos caminhos da obstetrícia que levam (ou que inibem) ao parto natural.  

No dia 30, já a lua repousava no céu envolta de estrelas, nasceu a Sofia, de cesariana
το 'Αλφα και το Ωμέγα

No meio do verão, no CDOS do Porto, 
Fogos e pesadelos. 
No inicio do verão, de bebé ao colo, 
Sonhos maiores, preocupações.
Está o Pedrogão a arder, gentes a morrer.

Onde está a nossa floresta, Sofia?

Não sei onde reside a culpa, se é que há culpados.

Vivemos num país mediterrânico
E os eucaliptos vão ganhando espaço.
E agora?
Faltam guardas florestais,
Faltam rebanhos,
Bombeiros então nem se fala…
Falta o bom senso, talvez.   
Falta escutar, mais do que ouvir,
Falta pensar.

Na floresta e nas pessoas.



Para vocês, Um amor para a vida toda

quarta-feira, 8 de março de 2017

Anna e a montanha

A noite estava fria. Era fevereiro e o sol de inverno só a espaços ia aquecendo a massa fria de ar, arrastada do mar para as colinas da maior montanha do mundo. Na maior parte, os dias eram chuvosos. Uma chuva miúda ia-se acumulando nos ramos despidos das árvores e descia até aos seus vértices formando pequenas gotículas de prata.

Mas hoje não. O céu tinha-se aberto repentinamente pela manhã, como se uma inteligência superior o tivesse ordenado e assim perdurara até agora. Nas margens do rio, sob o luar, Anna repousava por um momento. O dia tinha sido agitado, na verdade toda a semana. “Hei-de conseguir!” pensava ela conseguindo refletir por um segundo.

A colina da maior montanha do mundo permanecia silenciosa à sua frente, escura, inamovível, gigante, não conseguindo tapar completamente o firmamento.

Anna olhou diretamente para o topo. O céu estava nítido, a atmosfera seca permitia ver claramente as constelações de maior brilho. A restantes estrelas eram suficientes para delimitar os contornos do enorme maciço à sua frente.

O seu dilema era interior. Pela primeira desde que se lembrava de si mesma, via-se perante o desconhecido e incontornável fluir da vida. “Faltam ainda 3 meses, tenho tempo para me preparar”, dizia para si mesma. Para se convencer que tudo estava bem. Era como se a montanha à sua frente estivesse também dentro de si. Aquele obstáculo parecia-lhe adequado, “Sim, vou preparar-me. Não me vencerás.”


Rapidamente, Anna voltou a cerrar as abas do casaco de lã que levava posto. Encheu de água a vasilha de barro que a trouxera até ali, junto ao rio. Depois voltou-se e entrou rapidamente dentro de casa.